Mesmo com a presença crescente da pauta da diversidade no mercado de trabalho, as neurodivergências ainda são invisibilizadas nos ambientes corporativos. O desconhecimento sobre o tema contribui diretamente para a exclusão, o silenciamento e a perpetuação do capacitismo — mesmo em empresas que se consideram inclusivas.
Prova disso é que só em 2022 foi lançado o primeiro livro brasileiro sobre neurodiversidade, assinado pelo comunicólogo Tiago Abreu. De lá pra cá, a produção nacional ainda é escassa, especialmente quando se trata de materiais voltados à formação de lideranças.
A Juntxs se soma a esforços pela visibilidade e valorização das pessoas neurodivergentes, com o lançamento de dois volumes do Guia da Liderança Inclusiva voltados ao tema: Em setembro de 2023, o Manual Anticapacitista, e em dezembro de 2024, o Manual Neurodivergências,
“Acreditamos que promover um ambiente que respeita as diferenças passa necessariamente pela compreensão da neurodiversidade. E mais: é função da liderança criar espaços acessíveis e justos, onde todas as pessoas se sintam bem-vindas, valorizadas e capazes de florescer em sua singularidade”, afirma Darwin Grein, fundador e facilitador da Juntxs.
A realidade, no entanto, ainda é marcada por desafios no ambiente corporativo. A falta de preparo, a ausência de políticas inclusivas e o capacitismo estrutural impedem que talentos neurodivergentes se desenvolvam — e limitam a capacidade das empresas de inovar e prosperar.
O que são neurodivergências e por que esse tema importa tanto?
Neurodivergência é um termo usado para descrever pessoas cujos cérebros funcionam de maneira diferente em relação ao que é considerado “típico” pela sociedade. Esse funcionamento distinto é uma variação natural da neurologia humana — e, muitas vezes, uma fonte de talentos únicos.
Entre os tipos mais comuns de neurodivergências no ambiente corporativo, destacam-se:
- TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade): impacto no foco, impulsividade e organização;
- Transtorno do Espectro Autista (TEA): questões sensoriais, de socialização e comunicação;
- Dislexia: dificuldade na leitura e escrita, com inteligência preservada;
- Discalculia: dificuldade com números e raciocínio lógico;
- Dispráxia: desafios na coordenação motora e, em alguns casos, na fala;
- Altas habilidades/superdotação: desempenho acima da média em áreas específicas.
Compreender essas características é o primeiro passo para criar ambientes de trabalho mais inclusivos, produtivos e saudáveis.
Os desafios enfrentados por pessoas neurodivergentes no trabalho
Mesmo com o aumento do debate sobre diversidade e inclusão, muitas empresas ainda reproduzem práticas capacitistas e desinformadas que dificultam a permanência e o desenvolvimento de pessoas neurodivergentes.
Entre os principais obstáculos estão:
- Falta de compreensão: lideranças que desconhecem o tema acabam reforçando estigmas;
- Ambientes inflexíveis: reuniões longas, prazos curtos, tarefas sem clareza ou excesso de estímulos sensoriais são comuns;
- Capacitismo institucionalizado: a ideia de que só existe uma forma “correta” de trabalhar ainda domina a cultura organizacional.
Essas barreiras não apenas comprometem o bem-estar das pessoas neurodivergentes, como também limitam o potencial de inovação e crescimento das próprias empresas.
O que é capacitismo?
Capacitismo é a discriminação, muitas vezes naturalizada, contra pessoas com deficiência, com características cognitivas, sensoriais, físicas ou comportamentais que fogem do padrão considerado “normal” pela sociedade. Trata-se de um sistema de crenças, atitudes e práticas que desvaloriza, infantiliza ou exclui quem não se encaixa nesses modelos pré-estabelecidos.
No contexto do trabalho, o capacitismo pode aparecer de forma direta, como quando uma pessoa é preterida em uma promoção por ser autista, ou de forma sutil, como ao “elogiar” uma pessoa com deficiência dizendo que ela é “um exemplo de superação” apenas por exercer uma função comum.
Esse tipo de perspectiva transforma a diferença em obstáculo, e romantiza a exclusão com discursos aparentemente positivos, mas profundamente desumanizadores.
Combater o capacitismo é urgente para a construção de ambientes realmente diversos, acessíveis e produtivos.
Liderança inclusiva: por que acolher a neurodivergência é bom para os negócios?
Lideranças que compreendem e valorizam a neurodivergência são mais preparadas para construir equipes diversas, criativas e engajadas. Os benefícios incluem:
Inovação: pessoas neurodivergentes costumam apresentar soluções únicas, com diferentes abordagens para resolver problemas complexos.
Maior engajamento: quando colaboradoras(es) se sentem respeitadas(os), há mais pertencimento e motivação.
Resultados mais sólidos: estudos mostram que equipes diversas são mais resilientes e tomam decisões mais assertivas.
Como liderar equipes neurodivergentes com mais assertividade e empatia?
Aqui vão algumas práticas concretas para liderar com mais consciência:
Conheça o tema: busque entender os diferentes tipos de neurodivergência. Informação de qualidade é o primeiro passo para a inclusão.
Adapte seus processos: flexibilize rotinas, ofereça diferentes formatos de comunicação, ajuste prazos quando necessário.
Escute ativamente: crie espaços seguros onde as pessoas possam expressar suas necessidades sem medo de julgamento.
Evite generalizações: cada pessoa é única. O que funciona para uma pode não funcionar para outra.
Reveja seus critérios de avaliação: considere o contexto e as diferentes formas de entrega e produtividade.
Caso real: o programa “Autism at Work”, da SAP
Um exemplo prático de inclusão e transformação vem da SAP, gigante da tecnologia. Em 2013, a empresa lançou o programa “Autism at Work”, com o objetivo de integrar pessoas autistas ao ambiente corporativo, explorando suas habilidades únicas.
Estratégias do Programa:
- Processos de seleção e treinamento adaptados, com entrevistas flexíveis e ambientes ajustados às necessidades sensoriais.
Impacto na Retenção e Produtividade:
- Taxa de retenção de 90% entre profissionais autistas, superando a média da empresa;
- Um ambiente de trabalho acolhedor que valoriza as contribuições de pessoas neurodivergentes.
Benefícios em Inovação e Qualidade:
- Equipes compostas por profissionais autistas impulsionaram a inovação e a produtividade, especialmente em funções que exigem alto foco e precisão, como análise de dados e engenharia de software.
O sucesso do programa “Autism at Work” é um exemplo direto de como incluir talentos neurodivergentes pode beneficiar tanto pessoas quanto organizações.
Liderar é acolher. E acolher é transformar.
LIderança começa nas relações. Na escuta ativa, na adaptação de processos, na coragem de reconhecer e corrigir o que exclui — mesmo quando isso exige revisar práticas antigas e abrir mão de “certezas”.
Acolher pessoas neurodivergentes e com deficiência é reconhecer que não existe um único jeito certo de aprender, produzir ou contribuir. É entender que o desempenho floresce onde há respeito, valorização e incentivo. Que o potencial se realiza onde há segurança.
O senso de pertencimento não nasce de discursos, mas de posturas diárias e intencionais.
Liderar, portanto, não é apenas coordenar ou delegar. É criar espaço para que todas as pessoas possam ser quem são, com suas formas únicas de pensar, sentir e agir — sem medo, sem precisar se encaixar para existir.
Na Juntxs, acreditamos que a transformação não acontece sozinha. Ela se constrói, passo a passo, por meio de lideranças que se comprometem a incluir, aprender e evoluir constantemente.
E você? Já começou esse movimento por aí?
VAMOS JUNTXS TRANSFORMAR?
📲(11) 93033-9747 | ✉ vamos@juntxs.com.br
Para saber mais:
Manual Neurodivergências: um convite à escuta, à adaptação e à liderança consciente
Lançado em dezembro de 2024, o Manual Neurodivergências é o Volume 6 do Guia para uma Liderança Inclusiva da Juntxs. Criado como resposta à escassez de materiais nacionais sobre o tema, o manual oferece um olhar sensível e prático para quem deseja liderar com mais empatia e menos barreiras.
Nele, você encontra:
- Conceitos acessíveis e atualizados sobre neurodivergência;
- Desafios mais comuns no ambiente corporativo e estratégias para superá-los;
- Dicas práticas para transformar o discurso em ação;
- Casos reais que mostram os benefícios da inclusão;
- Um guia direto com o que fazer x evitar como liderança.
Manual Anticapacitista: por uma liderança que respeita sem idealizar
Em setembro de 2023, a Juntxs, em parceria com a Talento Incluir, lançou o Manual Anticapacitista.
Mais do que um alerta, o material é um convite à reflexão: elogiar pessoas com deficiência como “exemplos de superação” ou “anjos inspiradores” não é inclusão — é desumanização.
A romantização da deficiência retira da sociedade a responsabilidade por garantir acesso, justiça e pertencimento. E quem lidera precisa estar atenta(o) a isso.
No Manual Anticapacitista, você encontra:
- Um panorama claro sobre o que é capacitismo e como ele opera;
- Exemplos de falas capacitistas disfarçadas de gentileza;
- Dicas para liderar com responsabilidade e respeito às diferenças;
- Reflexões práticas sobre como romper com estigmas enraizados.